quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Vem, me dê a mão

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A solidariedade precisa ser trabalhada nas crianças todo dia, em casa e também na escola. Só assim elas aprenderão o quanto é importante ajudar o próximo






A gratidão de quem recebe um benefício é sempre menor que o prazer daquele que o faz", já dizia sabiamente o escritor Machado de Assis no conto Almas Agradecidas, na Série Bom Livro (Ed. Ática). Estudos mostram que após a pessoa promover uma atitude solidária, o cérebro libera a substância endorfina, provocando sensação de felicidade. Há 11 anos, os 490 alunos do colégio particular Batista Eleutério Rocha, da cidade de Pedreiras (MA), compartilham desse sentimento. Imbuídos de um grande espírito solidário, eles "adotam" uma escola pública municipal para distribuir brinquedos e lanches e fazer apresentações culturais. Em Boa Vista (RR), outro exemplo: no Centro Educacional Objetivo Macunaíma os 590 estudantes se reúnem para entregar doações a instituições carentes. 

Na cidade gaúcha de Nova Prata, os 1200 alunos do Instituto Estadual de Educação Tiradentes arrecadaram alimentos, roupas, livros... para distribuir aos necessitados num projeto chamado Gincana Solidária. De norte a sul do país são inúmeros os projetos criados por professores visando ao bem estar do próximo. "Pesquisas recentes revelam a importância de valores como a solidariedade serem trabalhados nas escolas e o quanto é essencial para as crianças praticá los desde pequeninas", diz Luciene Tognetta, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Universidade Estadual Paulista (Unesp). 

EXERCÍCIO DIÁRIO 
Segundo a educadora, o conceito de solidariedade nas escolas é construído por meio do convívio social, dia após dia, pois é no cotidiano que as crianças desenvolvem as virtudes. "Por exemplo, quando há conflito entre dois alunos, o professor deve promover o diálogo entre eles: ao se expressarem e dizerem o que os incomoda eles aprendem a olhar o outro com generosidade", explica Luciene. 

Mas a família também tem papel fundamental na construção desse caráter. "É preciso que a criança sinta a união de pais e irmãos e os vejam praticando a solidariedade entre eles mesmos", comenta o psicoterapeuta e educador Leo Fraiman (SP). Fisiologicamente, fazer o bem é muito saudável: estudo realizado pela Universidade de Harvard (EUA), com cerca de 2700 pessoas, apontou que ser solidário e praticar algum trabalho voluntário é benéfico ao coração e ao sistema imunológico, além de aumentar a expectativa de vida. 

4 PASSOS QUE ESTIMULAM A SOLIDARIEDADE Para que o seu filho se torne um cidadão do bem — daqueles que auxiliam alguém a atravessar a rua, doam, emprestam...—, ele precisa ser motivado desde a infância. Veja como incentivá lo: 

1- Ensine a compartilhar As crianças estão discutindo por um brinquedo? Simplesmente tire o delas e diga que você só o devolverá quando elas entenderem que devem brincar juntas ou aprender a emprestar. "Para não ter dor de cabeça, muitos pais preferem resolver o problema comprando um brinquedo igual para cada filho, reforçando o individualismo e gerando o egoísmo. O distanciamento das pessoas faz com que elas nunca enxerguem as necessidades do outro", diz o psiquiatra Içami Tiba (SP). 

2 - Encoraje as iniciativas solidárias 
Caso a escola esteja promovendo alguma ação solidária, estimule seu filho a participar. Melhor: pai e mãe devem se informar sobre o projeto e verificar como podem colaborar efetivamente. "Contribuir apenas com dinheiro é algo muito cômodo, preguiçoso. É importante que os pais expliquem para as crianças o significado de vestir a camisa, se engajar", avisa Fátima Balthazar, arte educadora e assessora pedagógica especialista em valores humanos (SP). Acima de tudo, mostre que devemos fazer o bem incondicionalmente, sem esperar nada em troca. 

3 - Não trabalhe pela criança A sua não colaboração pode acontecer numa situação simples, como não ajudálo a arrumar a bagunça dos brinquedos. É importante que o pequeno entenda que cooperar com a mãe e o pai para manter a casa em ordem é ser solidário. Ensine que cada um deve dar o melhor de si para o outro e que quando a gente se ajuda todo mundo sai ganhando. 

4 - Evite comparações 
Se você tem um filho solidário e o outro não, respeite o jeito de agir de cada um e trabalhe para mudar o cenário. Observe com atenção o cotidiano da criança menos solidária e, ao perceber qualquer atitude generosa dela, elogie e a faça entender que aquilo é solidariedade. Mostre o quanto a outra parte ficou feliz e o bem estar que ela própria acabou sentindo. Incentive a a agir mais assim. 

MUITO TRABALHO A FAZER Apesar de muitos brasileiros serem solidários e não medirem esforços para ajudar o próximo, ainda estamos caminhando muito devagar nesse sentido. Uma pesquisa recente realizada pela Charities Aid Foundation (instituição de caridade do Reino Unido) e o Instituto Gallup, em 153 países do mundo, avaliou que o Brasil ocupa a 76ª posição no ranking mundial de caridade. Somos menos solidários que a média da população mundial! Os países mais altruístas são Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Irlanda e Suíça. Está aí um bom motivo para desenvolvermos a solidariedade desde a infância. 

ENTRE NESTE JOGO! 
No livro A Formação da Personalidade Ética: Estratégias de Trabalho com Afetividade na Escola, a educadora Luciene Tognetta ensina jogos que desenvolvem as virtudes na criança. Que tal sugerir a diversão abaixo na escola de seu filho — ou aproveitá-la para brincar em casa? 

• Como montar: escreva as virtudes em tiras de papéis (solidariedade, respeito, tolerância, polidez, gratidão...) e coloque cada uma num envelope. 

• Regra do jogo: as crianças sentam se em círculo e os envelopes são espalhados no meio da roda. Uma delas escolhe um e lê a virtude sorteada. Você ou o professor organizam a discussão sobre a virtude perguntando, em primeiro lugar, se todos compreendem seu significado. Depois discutem, dão exemplos de como ela pode fazer parte do cotidiano e questionam se já a exercitaram naquele dia.

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